10/03/25 às 20h20
Atualizado em 11/03/25 às 09h02
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Foto: Universidade Federal de Santa Catarina/Fabio Daura Jorge
Em Laguna, no Litoral sul catarinense, uma equipe de pesquisadores investigou um curioso comportamento de cooperação entre os seres humanos e os botos-de-Lahille (Tursiops truncatus gephyreus), um golfinho típico das águas tropicais e temperadas. Juntos, homens e golfinhos se beneficiam há gerações da captura em conjunto às das tainhas durante o período da safra.
Com ajuda de drones sobrevoando o mar, a equipe conseguiu capturar imagens inéditas sobre como funciona o ataque. Assim, eles descobriram que os golfinhos tendem a conduzir os cardumes de tainhas em direção às águas rasas. E lá os humanos esperam com redes de pesca em mãos.
Com batidas de cauda na água e mergulhos repentinos, esses mamíferos sinalizam a aproximação dos peixes às pessoas, que, então, os prendem em suas redes. Enquanto os pescadores lutam para tirá-los do mar, os botos aproveitam para puxar algumas unidades da rede.
Uma análise com mais detalhes do encontro ganhou divulgação em um novo artigo científico, publicado no dia 12 de fevereiro, na revista especializada Current Zoology. Dessa forma, veja um dos vídeos gravados, compartilhado pela revista New Scientist em 2023:
Caça em conjunto
Pesquisas anteriores de um programa de monitoramento de 40 anos centrado nessa busca conjunta de golfinhos e humanos já tinham mostraram como os humanos cooperam entre si para aumentar ao máximo a captura de peixes. No entanto, os cientistas não tinham certeza se os golfinhos também cooperavam entre si ou competiam pela tainha.
Para verificar isso, as gravações com drones sobre o mar ocorreram por 18 dias, durante maio e junho de 2018, durante o pico da temporada de migração das tainhas. Cerca de 45 interações de forrageamento entre humanos e golfinhos foram registradas; dessas, nove foram bem-sucedidas, com a captura de lanços com milhares de tainhas.
Neste processo, os pesquisadores rastrearam três elementos dos movimentos dos golfinhos vistos da superfície: a distância entre os indivíduos quando eles emergiram; o alinhamento de suas trajetórias de natação; e a sincronização de seus mergulhos.
Confirmou-se, desta forma, que golfinhos e pessoas tinham uma chance maior taxa de sucesso conjunto quando a pastoreação dos peixes e aproximação da costa era feita ao longo de múltiplas trajetórias. A sincronia dos mergulhos também parece afetar a efetividade da missão.
Futuro da pesquisa
“Compreender as táticas que garantem resultados frutíferos é importante para prolongar essa parceria única de caça”, explica Mauricio Cantor, coautor do projeto, em entrevista à ScienceNews. “Isso serve como um exemplo duradouro de que nossas interações com a natureza não precisam ser unilaterais. Elas também podem ser mútuas”, explicou ele.
Ecologistas da equipe estão agora trabalhando com cientistas da computação para construir um modelo de inteligência artificial (IA). A ideia é que ele ajude a extrair os padrões de comportamento de superfície dos golfinhos de vídeos de drones de forma mais eficiente.
Outros quatro anos de dados fisiológicos ainda estão sob análise. A equipe acredita que esse conjunto de informações possa ajudá-los a desvendar como funciona a tomada de decisão dos humanos.
No futuro, Cantor e seus colegas esperam reunir o mesmo tipo de dados fisiológicos sobre os caçadores de cetáceos. “Isso será um pouco complicado”, admite o pesquisador, pois ele terá que “esperar que alguém desenvolva um tipo de Fitbit [monitor digital de saúde] para golfinhos”.
Com informações da Revista Galileu
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