Milagres da Banana São Tomé

21/03/17 às 16h16
Atualizado em 18/03/24 às 22h49
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Por João José Leal Promotor de Justiça e Professor aposentado

 Agora, com a macrobiótica contemporânea reconhecendo as propriedades alimentares “milagrosas” da banana, compreendo a sabedoria (ou crenças!) que os tijucanos acumularam ao longo dos tempos sobre o valor nutritivo deste saudável fruto. Nos meus tempos de criança, era assim e acho que não mudou. Para os tijucanos, cada espécie de banana tinha ou tem o seu modo especial de preparo e o momento próprio para ser consumida. Havia, também, uma crença quase religiosa de que cada tipo de banana tinha suas propriedades medicinais ou dietéticas específicas.
Uma delas é a banana São Tomé, também chamada de banana-do-paraíso, nome que está a sugerir saúde e bem-estar para quem vier a consumi-la. Com sua casca fina, um formato mais grosso e curto – tanto que também leva o nome de banana curta – não se comia crua. Por que era assim? Não sei, mas era o costume rigidamente observado por todos. Ou, então, um forte preconceito a ditar as regras da culinária tijucana relativa ao consumo deste fruto.
Tanto que nunca vi alguém e nem nunca me arrisquei a comer uma banana São Tomé “in natura”. Neste caso, o preconceito sempre venceu a curiosidade. Como verdadeiro tabu, os tijucanos sempre respeitaram esse antigo costume e essa espécie de banana só se comia assada. De preferência, na brasa. Ou em cima da chapa do fogão a lenha, por ser mais prático.
Atualmente, com o predomínio do fogão a gás, já não é mais possível assar uma São Tomé como se fazia na chapa daqueles antigos fogões que fumegavam - queimando lenha sem parar - desde manhã cedo até o preparo final do almoço. Agora, o mais prático e rápido é o microondas. Mas, sem aquele charme da fumaça esvoaçando do fruto frigindo sobre a lâmina de aço aquecida pelas chamas da madeira em combustão.
Escrevo tudo isso porque a banana São Tomé, realmente, (des)frutava de uma áurea misteriosa. Era reverenciada com uma boa dose de fé mística. Segundo a crença popular tijucana, esse sagrado fruto seria capaz de “curas milagrosas”, principalmente, no caso de doenças pulmonares e respiratórias. Diziam que curava asma, bronquite e até tuberculose. Alguns mais fervorosos, afirmavam conhecer doentes de câncer curados pelo poder mágico da banana São Tomé, o que parece não estar em consonância com a ciência.
Na verdade, era preciso ter fé e experimentar para ver as qualidades dessa espécie de banana, naquela época, ainda bastante cultivada em todo o Vale do Rio Tijucas. Hoje, já não sei mais onde encontrar esse fruto da fé e do milagre da medicina popular ou esotérica.
Como duvidar, se fé é assim mesmo? Move montanhas e desafia o saber científico. De qualquer modo, ninguém deve duvidar do seu elevado valor nutritivo, rica em vitaminas, fibras e sais minerais, inclusive, em proteínas, informação que está – aí sim - em consonância com a ciência nutricional.
 

 

Jornal Razão

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