23/08/23 às 21h21
Atualizado em 08/11/24 às 10h24
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Foto: Polícia Civil/Divulgação
Quatro profissionais da área da saúde, foram detidos em uma operação direcionada a clínicas ilegais de emagrecimento em Santa Catarina. As clínicas investigadas atuavam nas cidades de Joinville, Balneário Camboriú e Itapema.
O responsável pela operação, delegado José Gattaz Neto, divulgou que os detidos na ação mais recente são dois médicos, um farmacêutico e um nutricionista. Todos supostamente teriam adotado práticas ilegais inspiradas na clínica estética de um coach, detido anteriormente em 15 de agosto e já envolvido em um caso semelhante em 2017.
Gattaz Neto destacou que esses profissionais observaram o sucesso do esquema ilegal da clínica anterior e decidiram estabelecer suas próprias clínicas para capitalizar com base em práticas criminosas.
Durante a operação, as clínicas foram fechadas. Desde o início da operação, 14 indivíduos foram presos.
A investigação da Polícia Civil segue em busca de mais envolvidos. Os desafios são muitos, uma vez que se trata de um extenso esquema de falsificação e venda de medicamentos. No entanto, a equipe investigativa segue realizando progressos e efetuando prisões.
Gattaz Neto assegura que as investigações vão continuar com o objetivo de identificar outros envolvidos, mais clínicas que operem ilegalmente e solicitar mais prisões, conforme as evidências surgirem.
O que se sabe até agora
Um homem de 39 anos, dono de duas clínicas de luxo em Balneário Camboriú e Joinville, foi preso na terça-feira (15). A detenção aconteceu em Joinville, com o suspeito permanecendo em custódia no presídio local, conforme informou o delegado regional Rafaello Ross.
As redes sociais das clínicas revelam informações sobre emagrecimento, mostrando imagens de clientes supostamente satisfeitos e promessas de “transformações”. No perfil pessoal, o homem se autodenominava especialista em neurociência focada em fisioterapia e também psicanalista.
Elaine Rita Auerbach, promotora de Justiça, durante uma coletiva de imprensa, mencionou que, em 2021, o empresário adquiriu um diploma de nutrição. No entanto, existem dúvidas sobre a autenticidade desse documento. Ele frequentemente apresentava atestados médicos à instituição de ensino e não se envolvia em atividades acadêmicas.
Em 2019, após ser condenado e cumprir pena por uma prisão anterior em 2017, o suspeito teve sua primeira clínica fechada. Posteriormente, ele inaugurou um novo estabelecimento no centro de Joinville. Nesse período, ele atuou com uma tornozeleira eletrônica, usando a posição de coach, que não exige qualificações formais, como cobertura.
Foco da Investigação
A Operação Venefica, liderada pela Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Joinville, centra-se em diversas acusações, incluindo falsificação e adulteração de produtos medicinais, exercício ilegal da profissão, e lavagem de dinheiro.
Além das prisões em Santa Catarina, outros mandados de busca e apreensão foram executados no Paraná e em São Paulo. A acusação aponta o homem como líder de um grupo que fornecia medicamentos com prescrições médicas falsificadas e composições alteradas.
Até o presente momento, a operação resultou em 14 prisões e 29 investigados. As clínicas em Balneário Camboriú e Joinville foram interditadas, bem como algumas farmácias em Itapema e Balneário Camboriú.
As investigações continuam, focando na análise de documentos, dispositivos móveis e substâncias apreendidas. O objetivo é descobrir outros possíveis colaboradores do esquema.
Para finalizar, medidas judiciais foram tomadas, incluindo o bloqueio de bens e a suspensão de perfis nas redes sociais.
Desvendando o esquema criminoso
O delegado Ross revela que, após sua detenção em 2017, o suspeito aprimorou suas táticas criminosas para escapar do alcance da Justiça. A estratégia? Estabelecer parcerias com profissionais da saúde como nutricionistas, médicos e biomédicos. O intuito era adquirir prescrições não autorizadas de anabolizantes, emagrecedores e fitoterápicos. Estes colaboradores também eram responsáveis pela aplicação de tratamentos injetáveis diretamente nas clínicas.
A promotora Elaine trouxe mais detalhes ao mencionar que o coach, sem possuir formação adequada, muitas vezes compunha fórmulas medicamentosas sem embasamento científico.
— “Ele mantinha médicos sob pagamento para prescrever drogas com documentações fraudulentas. Havia também um acordo com farmácias de manipulação para promover a venda conjunta de medicamentos com preços inflacionados, induzindo os clientes ao erro”, esclareceu Elaine.
De acordo com informações do Ministério Público, a aquisição desses medicamentos ocorria majoritariamente via canais ilegais de países estrangeiros. Ficou evidente que farmácias de manipulação estavam cientes das alterações nos medicamentos.
O cerne do lucro da rede criminosa advinha da comercialização desses itens. Na tentativa de ampliar os ganhos, medicamentos eram prescritos por um valor, mas comercializados por um preço ainda maior. Em muitos casos, a composição indicada no rótulo não correspondia ao produto real ou era fornecida em proporções reduzidas.
Em termos práticos, os clientes raramente tinham conhecimento sobre estas prescrições. A autonomia para decidir onde adquirir o medicamento era retirada, uma vez que a clínica encaminhava diretamente as requisições para os cúmplices do esquema. Além das unidades em Balneário Camboriú e Joinville, o coach possuía filiais em outras localidades como Pirabeiraba e Brusque, com planos de expandir ainda mais.
Estratégia financeira obscura: de laranjas a criptomoedas
O delegado Rafaello Ross revelou que o esquema iniciou-se quando o coach estava casado. Após a separação, no entanto, ele incorporou amigos e familiares ao negócio, incluindo sua mãe. Estes indivíduos teriam sido usados como laranjas pelo empresário, que transferiu bens valiosos, como carros de luxo e propriedades, para os nomes deles.
Em resposta às descobertas, a Justiça decretou o bloqueio de todos os veículos, contas bancárias e valores em criptomoeda associados aos CPFs e CNPJs investigados.
O levantamento inicial indica que a empresa gerava um lucro de pelo menos R$ 200 mil por mês. Entretanto, Neto Gattaz, delegado responsável pelo inquérito, aponta que o coach evitava pagar impostos devidamente.
— “O valor declarado era apenas uma fração. Suspeitamos que o rendimento real fosse muito superior”, observou o delegado.
Medicamentos irregulares e riscos à saúde
A Polícia Civil, enquanto investiga a extensão dos danos, já obteve relatos de clientes que, após usar os medicamentos fornecidos pela clínica do coach, sofreram com taquicardia, disfunção erétil e manchas na pele.
Além de vender medicamentos com irregularidades, há evidências de que a clínica comercializava produtos vencidos e que não foram armazenados adequadamente. Em andamento, a Polícia Científica de Joinville analisa mais de 50 substâncias confiscadas dos estabelecimentos, com o intuito de confrontar o conteúdo real com a descrição no rótulo. Em algumas situações, medicamentos alegadamente naturais contêm, na realidade, ingredientes sintéticos, que podem ser controlados ou até mesmo proibidos.
Esta questão torna-se ainda mais crítica quando se revela que a clínica operava sem a devida licença sanitária, resultando em sua interdição pela vigilância local. Em um único dia, uma das unidades tinha 112 pacientes agendados para consultas.
Histórico de delitos do Coach
Não é a primeira vez que o coach enfrenta a lei. Em 2017, ele foi detido e, em 2019, recebeu uma sentença de oito anos pelo Tribunal do Paraná por exercer ilegalmente a profissão de nutricionista e por comercializar medicamentos não autorizados.
Naquela ocasião, sua clínica, sob outro CNPJ, era associada a incidentes em Ponta Grossa (PR), onde pacientes apresentaram reações adversas após a utilização dos medicamentos recomendados por ele.
Após cumprir apenas alguns meses da sentença, ele foi liberado sob medidas cautelares. Posteriormente, estabeleceu-se em Joinville, onde inaugurou um novo empreendimento em uma região prestigiada da cidade. No novo espaço, atuou como coach, uma função que não requer formação específica ou registro oficial, e chegou a trabalhar usando uma tornozeleira eletrônica.
Conforme a Lei de Abuso de Autoridade de 2019, os detalhes e identidades dos suspeitos ou presos não serão divulgados.
Fonte: Visor Notícias
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